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O beijo de Judas: Fotografia e verdade

Título: O beijo de Judas: Fotografia e verdade

Autor: Joan Fontcuberta

Sinopse: Product Description
No mundo contemporâneo, as aparências substituíram a realidade. No entanto, a fotografia, uma tecnologia historicamente a serviço da verdade, continua desempeñando uma função de mecanismo estrutural da consciência moderna: a câmera não mente, cada fotografi a é uma evidência. A partir de vivências pessoais, o autor critica esta crença e reflete sobre aspectos fundamentais da criação e da cultura atual.
Excerpt. © Reprinted by permission. All rights reserved.









Texto da introdução:

'Introduçao

'A verdade existe. Só se inventa a mentira'
GEORGE BRAQUE,
Pensées sur l’art

'Creia somente nesta verdade: ‘Tudo é mentira'
HUMORADAS, LXXXI



Paul Valéry dizia que no início de toda teoria há sempre elementos autobiográficos. Confesso compartilhar desse sábio preceito; o que eu possa dizer sobre a fotografia, de qualquer época e de qualquer tendência, vem marcado por minha própria prática criativa. As ideias que exponho a seguir, portanto, constituem, mais que propostas teóricas, a expressão de poéticas pessoais, textos de artista, às vezes encaminhados a justificar a própria obra. Mas de um artista, acrescentaria, curioso por tudo e amante de uma reflexão não isenta de toques de ironia.

Nós, os criadores, costumamos ser monotemáticos. Podemos disfarçar com envoltórios de distintas cores, mas no fundo não fazemos mais que voltar obsessivamente à mesma questão. Para mim essa questão gira em torno da ambiguidade intersticial entre a realidade e a ficção ou do debate sobre situações perceptivas especiais, como no caso do trompe-l’oeil, ou sobre novas categorias do pensamento e da sensibilidade, como o vrai-faux… Mas, acima de tudo, meu tema fundamental é o da verdade: adequatio intellectus et rei.

A história da fotografia pode ser contemplada como um diálogo entre a vontade de nos aproximarmos do real e as dificuldades para fazê-lo. Por isso, apesar das aparências, o domínio da fotografia se situa mais propriamente no campo da ontologia que no da estética. Mesmo fotógrafos particularmente voltados para uma busca formal foram clarividentes a esse respeito. Assim, Alfred Stieglitz, ponte entre as práticas pictorialistas e documentais do século XIX e a modernidade do XX, declarou: “A beleza é minha paixão; a verdade, minha obsessão”. E, apenas alguns anos mais tarde, radicalizaria essa máxima afirmando que “a função da fotografia não consiste em oferecer prazer estético, mas em proporcionar verdades visuais sobre o mundo”. As décadas seguintes serviriam para averiguar como deveriam ser entendidas essas “verdades visuais”, se é que podiam sê-lo de alguma maneira.

Vejamos um caso real como a própria vida. Minha filha Judit veio ao mundo bastante prematura, depois de uma gravidez problemática de pouco mais de seis meses. Seu peso só chegava a 1,2 quilos e suas expectativas de vida eram tão precárias que teve que permanecer durante três meses em uma incubadora. Além disso, quando nasceu, em março de 1988, tivemos a infelicidade de sofrer os rigores de um sistema hospitalar escandalosamente retrógrado em assuntos de maternidade. Os bebês prematuros ficavam concentrados em uma sala especial, a cujo interior os pais não tinham acesso. Éramos obrigados a observar nossos filhos de longe, através de vários painéis de vidro e de um labirinto de incubadoras e entre a agitação apressada de médicos e enfermeiras correndo um lado para o outro. Além disso, no momento do parto, Marta, minha mulher, estava sob os efeitos da anestesia e, portanto, ainda não tivera a oportunidade de conhecer o rosto da filha. Sua ansiedade era totalmente compreensível.

Imaginei então que era o momento de tirar proveito de meu ofício. Dei minha câmera a uma enfermeira e pedi-lhe que se aproximasse de Judit para tirar vários retratos. Depois de instruí-la brevemente no manejo do foco e do fotômetro, a enfermeira imprimiu oito negativos. Corri para o meu laboratório, revelei o filme, fiz uma cópia em contato e voltei co

Editora: Editorial GG, SL

Páginas: 132

Ano: 2010-10-21

Edição: 1

Linguagem: pt

ISBN: 8425223695

ISBN13: 9788425223693

Informações do Autor

Nome: Joan Fontcuberta

Descrição: Artista conceitual espanhol

Joan Fontcuberta



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