Sinopse: De 26 de junho a 4 de dezembro de 1938, os leitores do prestigioso diário Tokyo Nichi-nichi Shinbun (hoje Mainichi Shinbun) acompanharam o relato aficionado de uma histórica partida de go, jogo japonês de estratégia em que dois adversários tentam encurralar o outro invadindo e controlando seu território num tabuleiro com até 361 peças. Ao longo de quase seis meses, ficariam face a face o "invencível" mestre Shusai e Minoru Kitani (aqui portando o nome de Otake), protagonistas de última partida profissional do grande mestre. A morte dele em 1940 motivou Yasunari Kawabata a transformas suas 64 reportagens em obra literária plena, o que apenas terminaria em 1954, sendo reconhecida por ele como uma de suas mais autênticas.
Apesar do jogo de regras simples, mas de desenvolvimento extremamente complexo e repleto de sutilizas sempre exploradas pelos adversários, o que fascinaria Kawabata no go são o grande choque psicológico e a estrutura emocional dos jogadores num torneiro infindável, que fazem deste relato muito mais do que a crônica de uma partida monumental. O Prêmio Nobel de 1968—ele mesmo um empenhado jogador amador de go—se envolve física e mentalmente ao cobrir a disputa.
Não se trata aqui de uma descrição técnicas dos 237 lances da partida, e sim de uma arguta observação dos jogadores em entrega absoluta. A rigor, um pleno entendimento dos regras do jogo sequer é necessário. O embata está igualmente na leitura dos gestos e expressões do adversário, nas regras rígidas estabelecidas nos mínimos detalhes, nas tensões dos bastidores, e até mesmo no papel desempenhado por um fio de sobrancelha. Nesse sentido, a partida permite várias leituras, inclusive aquela que coloca em jogo a oposição entre o Japão imperial tradicional e o modernizante.
