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Bolsões de resistência

Título: Bolsões de resistência

Autor: John Berger

Sinopse: Product Description

Bolsões de resistência é um compêndio de vinte e quatro ensaios escritos por
John Berger entre 1992 e 2000. Cada ensaio representa uma nova experiência de apreensão e compreensão do visível, seja na arte ou na nossa vida diária. Berger explica, através da leitura de obras de artistas tão diversos como Michelangelo, Goya, Degas, Brancusi ou Michelangelo Antonioni e cartas ao Subcomandante Marcos e Leon Kossof, que arte, política são sinônimos de resistência na busca de liberdade, reafirmação do desejo e criação.

Berger ajuda e ensina a ver ao mesmo tempo que nos permite respirar. Em nenhum momento diz como devemos ver, mas nos desvenda a sua caixa de ferramenta para que nós mesmos possamos criar nossa própria maneira. Utiliza um vocabulário extremamente simples e poético que transforma a leitura em aprendizagem, em experiência do sensível.

Excerpt. © Reprinted by permission. All rights reserved.



(Extrato) 1 ABRINDO UM PORTÃO O teto do quarto de dormir é de um azul celeste desbotado. Há dois grandes ganchos enferrujados aparafusados nas vigas, há muito tempo atrás o fazendeiro pendurava neles suas lingüiças e presuntos defumados. É nesse aposento que estou escrevendo. Fora da janela há velhas ameixeiras cujas frutas agora se tornam de um azul-negro, e atrás delas a colina mais próxima forma o primeiro degrau para as montanhas. Esta manhã cedo, quando eu ainda estava na cama, entrou uma andorinha voando, circulou pelo aposento, viu seu engano e fugiu pela janela. Passou pelas ameixeiras e foi pousar no fio do telefone. Relato esse pequeno incidente porque me parece ter algo a ver com as fotografias de Pentti Sammallahti. Elas, como a andorinha, são uma extravagância. Tenho algumas de suas fotografias na casa há uns dois anos. Muitas vezes as tiro da pasta para mostrar a amigos que estão de passagem. Habitualmente primeiro eles ficam boquiabertos, depois olham melhor, sorrindo. Contemplam os locais ali mostrados mais tempo do que é habitual com fotografias. Talvez perguntem se conheço o fotógrafo Pentti Sammallahti em pessoa. Ou perguntam em que parte da Rússia foram tiradas. Nunca tentam verbalizar seu evidente prazer, pois é secreto. Elas simplesmente olham melhor e recordam. O quê? * * * Em cada uma dessas fotos há pelo menos um cachorro. Isso está claro, e pode não passar de um truque. Mas na verdade os cachorros oferecem a chave para se abrir uma porta. Não: um portão — pois aqui tudo está do lado de fora, fora e além. Noto também em cada fotografia a luz especial, a luz determinada pela hora do dia ou a estação do ano. É invariavelmente a luz na qual as personagens procuram — animais, nomes esquecidos, uma trilha que leve para casa, um novo dia, sono, o próximo caminhão, a primavera. Uma luz na qual não há permanência, uma luz que não dura mais que um relance. Também isso é uma chave para abrir o portão. As fotos foram feitas com uma câmera panorâmica, como normalmente se usam para tomadas geográficas amplas. Aqui a amplitude é importante, penso que não por razões estéticas, mas mais uma vez científicas, de observação. Uma lente com foco mais estreito não teria encontrado o que eu agora vejo, e assim teria ficado invisível. O que vejo agora? Vivemos nosso cotidiano numa troca permanente com o conjunto de fenômenos diários que nos rodeiam — às vezes são muito familiares, outras inesperados e novos, mas sempre nos confirmam em nossas vidas. Fazem isso até quando são ameaçadores: a vista de uma casa incendiada, por exemplo, ou um homem que se aproxima de nós com uma faca nos dentes, ainda nos recordam (urgentemente) nossa vida e sua importância. O que vemos habitualmente nos confirma. Mas pode suceder, de repente, inesperadamente, e sobretudo nos vislumbres à meia-luz, que percebamos uma outra ordem visível que se intromete na nossa ordem, e nada tem a ver com ela. A velocidade de um filme de cinema é de 25 imagens por segundo. Sabe Deus quantas imagens por segundo lampejam na no

Editora: Editorial Gustavo Gili, S.L.

Páginas: 224

Ano: 2004

Edição: 1

Linguagem: pt

ISBN: 8425219353

ISBN13: 9788425219351

Informações do Autor

Nome: John Berger

Descrição: Crítico de arte e romancista

John Berger

Biografia: John Peter Berger, foi um crítico de arte, romancista, pintor e escritor inglês. Entre suas obras mais conhecidas estão o romance G., vencedor do Booker Prize de 1972 e o ensaio introdutório em crítica de arte Ways of Seeing, escrito como acompanhamento da significativa série homônima da BBC, e freqüentemente usado como texto universitário.

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