Sinopse: "Trafega Aramis no território da síntese do conto até ao poema com bastante maestria. Sua não é a linguagem do derrame da exuberância narrativa. Conciso e preciso Aramis não desperdiça a palavra. Fere a lira contencionalmente e plange seus ritmos com economia e sobriedade. Não é seu o campo minado da tragédia grandiloqüente. Sente-se perfeitamente à vontade para narrar em surdina e em surdina aguçar a verruma com que impiedosamente vai perfurando e perfurando a alma de seus personagens comparsas no drama surdo do dia-a-dia -avidez e imediatismo querem tudo que querem e querem agora; querem viver a qualquer preço; querem libertar-se da amarga gaiola de suas frustrações. Aramis esgrime com o florete rombudo do cotidiano. Pensa em conjunto. Age desvelando por solidarizar-se. Foge na verdade do que narra compassivo porém sem massacrar seus desvalidos seres de papel e tinta. Em seu panorama visto de perto não ocorrem transições bruscas gestos heróicos acidentes vertiginosos. Aramis vai construindo pacientemente seus cartões-postais da mediocridade humana penetrando o interior de suas criaturas sem privilegiar as peripécias enquanto os insere e os integra numa ampla paisagem dos aconteceres humanos decalque e "shopping" de ilusões que parecem palpáveis por isso mais dolorosas; por abeirar-se de uma configuração tantálica -está tudo aí; está tudo ao seu alcance; tudo se mostra se oferece se apresenta. Tudo seduz. Mas nada chega para nós de fato na real. Eis o suplício a que Aramis submete seus personagens no inferno da frustração cotidiana; ruminando o não nosso de cada dia. Aí está a prova de mão do contista ao sobrenadar o ser sobre o acontecer; no mergulho em busca da terra incógnita que há na alma humana -essa desconhecida. E assim técnica apurada e olho enviesado Aramis tece e entretece sua teia de palavras -sua projeção narcísica até a urdidura do Outro. "Ildásio Tavares
